O hipnótico longa de Paolo Sorrentino, “La Grande Bellezza” (“A Grande Beleza”), que ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2014, gerou polêmica e altas discussões sobre o atual estado da capital italiana, mas um fato é inegável: Roma, que serve de pano de fundo para a história, é linda. A constatação vale para todas as estações, mas principalmente durante os meses mais frios, quando há menos turistas. Dos bairros mais afastados, com seus restaurantes e bares novos, ao centro histórico, por onde o protagonista de Sorrentino, Jep, vagou ao longo de tantas cenas, Roma continua provando que sua beleza vai além das aparências.
SEXTA-FEIRA
15h – Banho de beleza
Uma das cenas mais comoventes de “A Grande Beleza” se passa nas ruínas de Terme di Caracalla, termas romanas colossais que remontam ao século 3. O encontro de Jep com um girafa ilusória em meio às ruínas espetaculares é memorável, mas não é preciso nenhum truque para tornar o monumento, geralmente relegado, inesquecível também à luz do dia. Os muros altíssimos do complexo, surpreendentemente bem conservados em certos trechos, funcionam como um esqueleto em tons de terracota para revelar a grandiosidade perdida dessa academia gloriosa, que inclui também os mosaicos dos pisos das piscinas, ladeadas por esculturas de mármore. Ingresso, 6 euros ou US$6,70, com o euro a US$1,11.
17h30 – Caça às galerias
Hora de avançar dois milênios para saber a quantas anda a arte contemporânea de Roma com uma visita à série de galerias perto de Campo de\’ Fiori. Comece pela Galleria Varsi, espaço inaugurado há dois anos dedicado ao grafite e à arte de rua que também organiza pintura em paredes. Ali do lado está a Dorothy Circus Gallery, cujas paredes vermelhas abrigam obras da pop art surrealista. Também nas imediações, um pátio de pedras e um chafariz esculpido protegem a entrada da prestigiada Galleria Lorcan O\’Neill, que se instalou nesse novo espaço em 2014 e onde, até quatro de abril, é possível admirar os trabalhos do britânico Eddie Peake.
20h – Novidade em Centocelle
As massas tradicionais que levam guanciale (carbonara, amatriciana, gricia) não correm nenhum risco de extinção, mas se outros restaurantes tão criativos como o Mazzo começarem a surgir, serão mais que bem-recebidos. Essa casa minúscula no bairro distante de Centocelle foi inaugurada em 2013 por dois chefs jovens e talentosos que pretendem elevar a culinária romana a um novo patamar. Quando estive lá, o destaque foi o rösti com brócolis e pecorino, prato ofuscado apenas pelas três almôndegas suculentas cobertas por cebola caramelada. Entre uma mesa comunal e um pequeno balcão, o local comporta apenas doze pessoas, ou seja, fazer reserva é essencial. O jantar para dois sai por cerca de 60 euros.
23h – Festa em Pigneto
De Centocelle, o bondinho que volta para o centro para no bairro onde bomba a vida noturna: Pigneto. Vale encerrar a noite ali. Para os fãs de cerveja há o Birra Più, loja de bebidas e pub com opções artesanais da Brewfist e Birrificio Emiliano nas torneiras. Se preferir algo mais forte, vá ao Co. So. Cocktails & Social, bar relativamente novo que oferece combinações criativas como o Carbonara Sour, feito com vodca com infusão de banha de porco, ovo, pimenta-do-reino, suco de limão e calda de açúcar. Se quiser música, passe pelo Yeah! Pigneto, um café despretensioso onde bandas locais e DJs se apresentam em meio à decoração vintage nos fins de semana.
SÁBADO
10h30 – Escolha seu mercado
Muita gente reclamou quando o Mercato di Testaccio, um dos mais antigos da cidade, foi transferido para um complexo recém construído, em 2012, e por uma boa razão: o espaço claro e limpinho lembra mais um shopping center anônimo que um mercado romano. Para uma experiência mais satisfatória, vá ao MercatoMonti, onde cerca de 25 vendedores (parte de um coletivo exclusivo de jovens estilistas, artesãos e antiquários) oferecem de tudo, desde chapéus de feltro e óculos escuros antigos a suéteres listrados e vestidos originais.
12h30 – Panini de primeira
As vielas labirínticas e românticas do Trastevere, a oeste do rio Tibre, estão cheias de opções culinárias duvidosas, mas entre elas se esconde uma exceção deliciosa: o café Pianostrada Laboratorio di Cucina, do tamanho de um closet. Inaugurado em maio de 2014 por quatro mulheres (mãe, duas filhas e amiga) essa casa piccolissima serve pratos caseiros e um panini fantástico, preparados com os melhores ingredientes da região. No almoço, prove o Pane Alici, que leva queijo stracciatella e anchovas trufadas no pão preto feito em casa (9 euros).
15h – Arte no Macro
O Museo d\’Arte Contemporanea Roma, ou Macro, localizado em uma antiga cervejaria Peroni, geralmente é preterido pelo outro museu de arte contemporânea da cidade, o Maxxi, uma estrutura moderna impressionante projetada pela arquiteta Zaha Hadid. Mas não julgue o museu pela fachada; o Macro apresenta exposições mais substanciais, desde retratos provocativos a instalações em grande escala, como o trabalho multicolorido em crochê de Toshiko Horiuchi MacAdam que fez parte do playground do bairro em 2014. Há alguns anos o museu ganhou uma nova ala, bem espaçosa. Ingresso: 13,50 euros.
17h – Caminhada doce
A curta caminhada do Macro fica a Come il Latte, uma sorveteria artesanal adorável que oferece uma das versões mais cremosas da cidade. Ao contrário das principais gelaterias, como Fatamorgana e Il Gelato, de Claudio Torcè, a casa, inaugurada em 2012, não serve sabores incomuns; em vez disso, a proprietária, Nicoletta Chiacchiari, usa ingredientes de primeira para melhorar os sabores tradicionais, resultando no caramelo com o rosado do sal do Himalaia e pistache com pedacinhos da noz de cor verde brilhante. Depois de se deliciar com uma casquinha, saia para queimar as calorias em uma caminhada no Quartiere Coppedè, região curiosa marcada pelos belos palazzi em art nouveau cujas torres e fachadas extravagantes parecem saídas de um conto de fadas.
20h30 – Jantar em Monteverde
Para conhecer a verdadeira cozinha romana moderna, vá para o centro. Em uma ruazinha tranquila do bairro residencial de Monteverde, a L\’Osteria di Monteverde é uma casa despojada cujo exterior não dá a mínima ideia dos pratos sensacionais que são servidos lá dentro. Provei um steak tartare que se mostrou uma verdadeira revelação gustativa graças à adição de um creme de ovo e parmesão, cogumelo porcini e ovo de codorna frito. O polvo grelhado sobre feijão borlotti perfumado com alecrim ganhou realce com o queijo stracciatella fresco e o espaguete, com o queijo de ovelha e baccalà e \’nduja (linguiça calabresa apimentada). O jantar para dois sai por 60 euros.
23h – Saideira
Para tomar a(s) última(s) da noite, atravesse Monteverde para chegar à Vineria Litro, um wine bar tranquilo inaugurado em 2013. O bar espelhado é forrado de garrafas de mescal raro, que também é usado para preparar o Mezsconi, versão do clássico Negroni que substitui o gim pela bebida almiscarada. Se preferir, pegue o bondinho de volta ao centro para conferir o No. Au, escondido em uma pequena pracinha, que serve vinhos naturais e cervejas artesanais. Puxe uma banquete de madeira para o balcão e peça um tinto siciliano da Occhipinti ou um a IPA da Birra del Borgo.
DOMINGO
10h – Casa santa
Nas manhãs de domingo uma multidão se reúne na Basílica de São Pedro para tentar ver o popular Papa Francisco, ainda que de longe, mas a congregação é bem menor na segunda maior basílica da cidade, San Paolo Fuori le Mura, fazendo dela o local perfeito para a contemplação sem pressa. O pé-direito imenso e os afrescos dourados da nave são impressionantes, mas escondido atrás de um transepto há um verdadeiro tesouro: a clausura (ingresso, 4 euros), um pátio tranquilo com belos mosaicos, um chafariz borbulhante e rosas em flor durante boa parte do ano.
Meio-dia – Dupla de força
Para ter uma lição sobre reuso adaptativo, siga para o norte na rua principal do bairro de Ostiense, rumo a Centrale Montemartini. Ali, a antiga termoelétrica foi transformada em museu e hoje abriga esculturas antigas e artefatos dos Museus Capitolinos. Destaque para os espaços principais da exposição, onde estátuas de mármore branco fazem um belo contraste com os equipamentos pretos: motores, caldeiras e turbinas que ajudaram a fornecer energia para a cidade no passado e hoje servem de objetos de arte. Ingresso: 7,50 euros.
14h – Pizza, Pizza
O fim de semana em Roma não fica completo sem pizza. Quem gosta da massa fina deve ir à Emma, uma pizzaria chique que funciona no centro histórico desde 2014. As redondas, leves e tão finas que são quase transparentes, são preparadas com a massa do badalado padeiro Pierluigi Roscioli e coberturas da Salumeria Roscioli ali ao lado. Para pizza al taglio (em fatias), vá ao Pizzarium, que só trabalha com a versão para viagem. A casa do mestre pizzaiolo reabriu no dia oito depois de uma reforma mais que necessária. As opções pendem para o não convencional, como abobrinha grelhada com ricota, mas todas são deliciosas. De uma forma ou de outra, a refeição termina como deveria toda viagem a Roma: de barriga cheia.
Hotéis
Situado em um palazzo do século 17 do centro histórico, o D. O. M (Via Giulia 131;domhotelroma.com; diárias a partir de 240 euros) é um hotel luxuoso com 24 quartos e suítes inaugurado no final de 2013. A decoração de rica textura é uma mistura interessante do novo e do antigo: imagine uma reunião de obras que inclua inscrições renascentistas em mármore e silk-sceens de Andy Warhol. E o bar no terraço de cobertura é “o” lugar para o aperitivo dos meses mais quentes.
Móveis das décadas de 50 e 60 se misturam a esculturas de mármore no J.K. Place Roma (Via di Monte d\’Oro 30; jkroma.com; diárias a partir de 500 euros), hotel de trinta quartos inaugurado em 2013. O estilo atraente do arquiteto Michele Bönan combina tons coloridos, camas com dossel e espaços comuns enfeitados com tapetes berberes e um candelabro futurista.